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O espírito de oração 1)

Nel documento PADRE PAULO ALBERA (pagine 173-178)

TEXTOS SELETOS DO P. PAULO ALBERA

1. O espírito de oração 1)

A quem de nós não aconteceu milhares de vezes ouvir falar do espírito de iniciativa e de ação dos Salesianos? Podiam ser elogios sinceros de pessoas benévolas que queriam estimular-nos sempre mais ao bem. Como também podiam ser insinuações malignas de algum invejoso ou arte satânica dos nossos adversários, com o objetivo de criar obstáculos à nossa missão providencial em favor da juventude. Seja lá como for, o certo é que por toda parte se comentou e também se exagerou.

Isso não nos deve maravilhar, dado que a Divina Providência nos enviou a cultivar um campo vastíssimo que, por estar exposto aos olhares de todos e por ter dado desde os inícios frutos ubertosos, não tardou a atrair a atenção das pessoas, inclusive das mais indiferentes.

De fato, depois da graça de Deus e da proteção de Maria Santíssima Auxiliadora, é à incansável operosidade e admirável energia de Dom Bosco, do P. Rua, de Dom Cagliero e de muitos outros filhos que se deve atribuir a rápida expansão das obras salesianas na Europa e na América.

Foi seu zelo incansável, foram suas santas iniciativas que em todo o tempo fizeram desabrochar no seu caminho numerosas vocações, surgir tantos e tão variados Institutos, a ponto de a nossa humilde Sociedade ser consi-derada um verdadeiro prodígio. (...)

Não há dúvida de que o espírito de iniciativa, o ardor e a jamais inter-rompida operosidade resultaram em grande honra para a nossa Pia Sociedade e atraiu a admiração e o louvor de muitas pessoas boas. Também atualmente esta é a prova mais confortadora da vitalidade da nossa Sociedade, ou melhor da singular proteção e assistência da poderosa Auxi-liadora sobre ela. Considerando esse fato, quem de nós não sente abrir-se o coração às mais alegres esperanças para o porvir? Todavia, falando-vos com o coração na mão, confesso que não posso livrar-me do doloroso pensamento e do temor de que esta celebrada atividade dos Salesianos, este zelo que até agora pareceu inacessível a qualquer tipo de desânimo, este ardoroso entusiasmo que até agora foi sustentado por felizes sucessos, um dia venham a declinar, se não forem fecundados, purificados e santificados por uma verdadeira e sólida piedade. (...)

Antes de mais nada, procuremos ter uma ideia adequada da piedade.

1 Da carta circular sobre o espírito de piedade (15 de maio de 1911), em Cartas circu-lares do P. Paulo Albera aos Salesianos, Turim, SEI, 1922 (daqui para frente: LC), pp.

25-35.

Essa palavra foi usada na língua latina (pietas) para indicar o amor, a veneração e a assistência que um filho deve aos que foram os autores da sua existência. Era o mais belo elogio que se podia fazer a um jovem, dizendo que ele tinha grande piedade para com seus pais.

Entretanto, essa palavra na linguagem da Igreja assumiu um significado imensamente mais nobre e sublime: foi usada para significar o conjunto dos atos com que o cristão honra a Deus, considerando-o seu Pai. Disto facilmente se deduz a diferença entre a virtude da religião e a piedade.

A primeira é uma virtude que nos leva a realizar todos os atos que se referem ao culto de Deus, o qual, tendo-nos criado, tem o direito de ser reconhecido por nós e adorado como supremo Senhor e Dominador do universo. Ao passo que a piedade faz-nos honrar a Deus, não somente como criador, mas também como dulcíssimo Pai, que voluntarie genuit nos verbo veritatis, voluntariamente nos deu a vida mediante a onipo-tência da sua palavra, que é palavra de Verdade. É pela piedade que nós não nos satisfazemos somente com o culto, eu diria, quase oficial, que a religião nos impõe; pela piedade sentimos dentro de nós a obrigação de servir a Deus com um afeto muito terno, uma atenciosa delicadeza, uma profunda devoção, que é a essência da religião, um dos mais preciosos dons do Espírito Santo e, segundo São Paulo, a fonte de toda graça e bênção para a vida presente e futura. (...)

Por isso tinha razão monsenhor de Ségur que escreveu: “A piedade cristã é a união dos nossos pensamentos, dos nossos afetos, de toda a nossa vida com os pensamentos, os sentimentos e o espírito de Jesus. É Jesus vivendo em nós”. É a piedade que regula sabiamente as nossas relações com Deus, que santifica todos os nossos relacionamentos com o próximo. Segundo afirma São Francisco de Sales: “As almas verdadeiramente pias possuem asas para elevar-se a Deus na oração, e pés para caminhar entre os homens por meio de uma vida amável e santa”.

Esse conceito imaginativo do nosso santo doutor nos ensina a distinguir as práticas religiosas que estamos habituados a realizar em determinadas horas do dia, do elã da piedade que deve acompanhar-nos em todos os momentos, e que tem como objetivo santificar todos os nossos pensa-mentos, palavras e ações, embora diretamente não faça parte do culto que prestamos a Deus. É precisamente este espírito de piedade que eu gostaria de inculcar a mim e a todos os meus caríssimos irmãos, dado que os limites desta circular não me permitem tratar de cada prática religiosa que as Constituições prescrevem.

O espírito de piedade deve ser considerado como o fim; os exercícios

Textos seletos do P. Paulo Albera 173

de piedade são somente o meio para adquiri-lo e conservá-lo. Feliz de quem o possui, pois em tudo só mirará Deus, haverá de se esforçar para amá-lo sempre mais ardentemente, procurará agradar somente a ele. Pelo contrário, como é deplorável a situação de quem não possui esse espírito!

Mesmo que realizasse vários atos de piedade durante o dia, segundo o testemunho de São Francisco de Sales, não passaria “de um simulacro, de um fantasma da verdadeira piedade”.

Afirmando isso, não pretendo absolutamente diminuir a elevada estima que devemos ter pelas diversas formas exteriores que a piedade assume, as quais são necessárias para a alma como a lenha é para o fogo, a água para as flores; o que eu quero dizer é que o espírito de piedade é a base e o funda-mento, e que também pode ser um meio de compensação para pessoas que, por trabalhos imprevistos ou particulares exigências da sua condição, não poderiam cumprir as práticas religiosas que a Regra impõe.

Há mais. Se nós deixássemos transcorrer um tempo notável sem nenhuma exteriorização desse espírito de piedade, se desgraçadamente permitíssemos que ele se apagasse dentro de nós, como poderia subsistir a íntima relação, o inefável parentesco que Jesus Cristo estabeleceu entre ele e as almas mediante o santo batismo? Não haveria mais nenhuma relação entre o Deus que nós chamamos com o suavíssimo nome de Pai, e nós que temos a felicidade de sermos chamados e sermos de fato seus filhos.

Além disso, não é verdade que se apagaria também o espírito de fé, pelo qual estamos de tal modo convencidos das verdades da nossa santa religião que devem ser guardadas sempre vivas na memória, a ponto de fazer sentir sua influência salutar em todas as circunstâncias da vida? Sem esse espírito, nem se dá atenção ao Espírito Santo, que com frequência nos visita, instrui, aliás, consola e socorre nas nossas fragilidades: adiuvat infir-mitatem nostram.

Ao passo que, se o espírito de piedade for bem cultivado, fará com que jamais se interrompa nossa união com Deus. Esse espírito comunica a cada ato, mesmo profano, um caráter intimamente religioso, eleva-o a mérito sobrenatural, de tal modo que, como perfumado incenso, faz parte do culto jamais interrompido que devemos prestar a Deus. Segundo São Gregório Magno, praticando o espírito de piedade, a nossa vida se torna um começo da felicidade de que gozam os bem-aventurados habitantes do céu: inchoatio vitae aeternae.

Além disso, os vínculos que ligam a alma cristã a Deus tornam-se bem mais solenes para quem teve a felicidade de fazer a profissão religiosa.

Mediante esse ato, a alma une-se a Jesus Cristo como esposa, a ele se dedica

sem reservas, a ele consagra suas faculdades, seus sentidos, toda a sua vida.

Ela passa a ser totalmente de Deus. Precisamente por isso, se há alguém que deva ter o espírito de piedade é o religioso. Ele deveria possuí-lo de tal modo a ponto de comunicá-lo a quantos dele se aproximam.

Por graça de Deus, nós temos muitos irmãos, P.s, clérigos e coadjutores que, quanto ao espírito de piedade, são verdadeiros modelos e causam admiração a todos.

Devo, porém, acrescentar, et flens dico [digo-o chorando], que há também Salesianos que neste ponto muito deixam a desejar. Infelizmente, alguns deles, quando noviços, tinham edificado seus companheiros com seu fervor.

Não mais poderiam ser chamados de filhos de Dom Bosco alguns que consideram as práticas de piedade um peso insuportável, usam de pretextos para se livrar delas e por toda parte oferecem o espetáculo do seu relaxa-mento e da sua indiferença. São plantas delicadas que a geada queimou;

são flores que o vento atirou ao chão; ou então são ramos que, se ainda não foram totalmente separados da videira, vegetam desventuradamente numa deplorável mediocridade e nunca darão frutos. (...)

Sem espírito de piedade, o religioso não terá como sacudir da alma o pó do mundo que infelizmente vai-se depositando sobre ele dia a dia por estar em contato contínuo com o mundo, como nos avisa São Leão Magno.

Apesar da nossa profissão, aliás, da nossa mesma sagrada ordenação, verdade é que não deixamos de ser filhos de Adão, de estarmos expostos a mil tentações; a qualquer momento podemos sucumbir às seduções das criaturas e aos assaltos das nossas paixões.

Só podemos sentir-nos seguros se estivemos defendidos pelo escudo de uma verdadeira piedade; somente com as práticas religiosas poderemos retemperar o nosso espírito, corresponder à graça de Deus e alcançar o grau de perfeição que Deus espera de nós. Esta é a razão pela qual os que foram suscitados por Deus para reformar as Congregações Religiosas que tinham decaído do primitivo fervor, antes de mais nada voltaram suas solicitudes para fazer reflorescer entre elas a piedade. Qualquer tentativa diferente teria sido vã, se antes não se tivesse preparado o terreno. (...)

Será no dia da provação que poderemos convencer-nos melhor de como é necessário o espírito de piedade. Precisamente porque trabalhamos incansavelmente, porque é confiada a nós a porção mais eleita do rebanho de Jesus Cristo e porque conseguimos colher algum fruto, contra nós serão dirigidos os dardos dos nossos inimigos.

Infelizmente chegará a hora da tempestade. Devemos estar prontos

Textos seletos do P. Paulo Albera 175

para a luta. Nós nos veremos abandonados por aqueles mesmos que profes-savam ser nossos amigos; só veremos ao nosso redor adversários ou indi-ferentes. Inclusive, quem sabe, permitindo Deus, não tenhamos que passar per ignem et aquam [pelo fogo e pela água], isto é, por graves sofrimentos físicos ou morais?

Em tão dolorosa conjuntura, persuadamo-nos bem, somente do espírito de piedade poderemos haurir força e conforto. Essa foi a fonte da qual o nosso venerável Dom Bosco extraiu a inalterável igualdade de caráter, a pura alegria que, como resplendente auréola, parecia ornar de forma mais fulgente sua fronte nos dias de maiores sofrimentos. (...)

A falta de piedade tornaria infrutuoso de nossa parte o ministério em favor das almas, e as próprias nossas grandes solenidades nos seriam atiradas na cara como lama repugnante, tal como Deus protestou por boca de Malaquias (Ml 2,3).

A respeito disso não posso passar em silêncio um assunto que mais do que outro qualquer deveria fazer com que os Salesianos sejam eficazes em sua ação. Todo o sistema de educação ensinado por Dom Bosco se apoia sobre a piedade. Onde a piedade não for devidamente praticada, viria a faltar todo ornamento, todo prestígio dos nossos Institutos, que se tornariam até mesmo inferiores aos próprios Institutos laicais.

Pois bem, não poderemos inculcar nos nossos jovens a piedade, se nós mesmos não formos abundantemente repletos desse espírito. Seria incom-pleta a educação que ministramos aos nossos jovens, pois o mais leve sopro de impiedade e imoralidade cancelaria neles os princípios que, com tantos suores e com longos anos de trabalho, tentamos imprimir em seus corações. O Salesiano que não for solidamente piedoso, nunca está apto para o ofício de educador. O melhor método para ensinar a piedade é o de dar exemplo dela aos outros.

Recordemo-nos de que não haveria elogio mais belo a ser dado a um Salesiano do que poder dizer dele que é verdadeiramente piedoso. É por isso que no exercício do nosso apostolado devemos ter sempre diante dos olhos o nosso venerável Dom Bosco, que, antes de tudo o mais, se apresenta a nós como modelo de piedade. (...)

Os que o conheceram lembram-se de sua atitude sempre devota, não afetada, com que Dom Bosco celebrava a Santa Missa; por isso, não era de se admirar que os fiéis se juntassem em torno do altar para contemplá-lo.

Muitas vezes, sem sabe quem ele era, retiravam-se dizendo: aquele padre deve ser um santo.

Pode-se dizer que toda a vida do Servo de Deus era uma oração

contínua, uma união com Deus jamais interrompida. Prova disto era a sua inalterável igualdade de humor que transparecia do seu semblante invaria-velmente sorridente. Em qualquer momento que nós recorrêssemos a ele para algum conselho, parecia que interrompesse seu colóquio com Deus para nos atender, e que por Deus lhe fossem inspirados os pensamentos e os encorajamentos que nos dava. Como era edificante ouvi-lo rezar o Pai-nosso, o Ângelus!

Jamais se apagará da minha memória a impressão que eu tinha no momento em que ele dava a bênção de Maria Auxiliadora aos doentes.

Enquanto pronunciava a Ave-Maria e as palavras da bênção, podia-se dizer que seu semblante se transfigurava; seus olhos marejavam de lágrimas e tremia-lhe a voz nos lábios. Para mim eram indícios de que virtus de illo exibat [dele saía uma força]; por isso não me admirava dos efeitos mila-grosos que se seguiam, isto é, se os aflitos eram consolados, curados os enfermos... (...)

Portanto, tomemos algumas resoluções práticas: 1. Façamos o propósito de sermos fiéis e exatos nas nossas práticas de piedade. 2. Prometamos santificar as nossas ações diárias... Os Salesianos continuem a dar exemplo de espírito de iniciativa, de grande atividade, mas que seja sempre e em tudo expansão de um zelo verdadeiro, prudente, constante, sustentado por sólida piedade. 3. Empenhemo-nos para que a nossa piedade seja fervorosa.

Chama-se fervor um desejo ardente, uma generosa vontade de agradar a Deus em tudo.

Nel documento PADRE PAULO ALBERA (pagine 173-178)