• Non ci sono risultati.

5. Virtudes e valores básicos da vida espiritual

5.7 A piedade

Eram “o espírito de oração”, a relação filial com o Senhor, a união habitual com Ele, e as diversas maneiras de expressá-lo por meio das jaculatórias espontâneas, da recordação amorosa de Deus, de falar da vida de Jesus, de sua Mãe, do desejo de visitá-los naquela capela de São Francisco de Sales que conser-vavam a nostalgia do primeiro Oratório.

Logo, era natural que essa chama acesa e alimentada levasse ao amor para com o próximo e desse a tudo um sabor especial.

Assim, “piedade” era, também, toda a vida, o dever mesmo, empapados de Deus.

Pareceria estar lendo estas frases com as quais Piter Van Der Meer de Walcheren descreve o ambiente da casa beneditina debaixo dos olhos de São Bento, o “pai” de cuja paternidade viviam seus monges. Tudo corria serena e equilibradamente inspirado no Evangelho e no senso comum. Cada um, como que respirando naturalmente a “presença de Deus”, amadurecia na fé e dava seus frutos de caridade e paciência humildemente, sem exageros nem artifícios, pois estes poderiam ser fruto da presunção e da soberba.211

Analogicamente, Alberto Caviglia descreve em termos seme-lhantes o ambiente de Valdocco, onde Dom Bosco e Mamãe Margarida eram como o pai e a mãe da “casa”. Tudo transcorria na presença de Deus. “O ar de família se compenetrava com o ar de Deus de modo a formar um clima de santidade que de fato

211 Cf. Piter Van Der Meer de Walcheren, Benito de Nursia. Buenos Aires, Edi-ciones Carlos Lohlé, 1955, p. 72-73.

era, em grande parte, um clima de santos. E isto não é apenas uma frase bonita nem um jogo de palavras”. Dom Bosco tinha logrado de fato que todos se sentissem como filhos de Deus e dele, na maneira com que o amávamos e éramos por ele amados.212

Na linha da espiritualidade salesiana, a piedade se tornava

“devoção”, “que não era outra coisa que o fogo da caridade em chamas, que fazia tudo ligeiro e alegre. São Francisco de Sales a identifica, como já dissemos, com a santidade”.213

Com esse amor Dom Bosco ensinou seus discípulos a viver a relação com Deus, fazendo-os experimentar a própria paterni-dade espiritual e sua vizinhança de irmão e de amigo. Levou-os a sentir Nosso Senhor como pai, Cristo “como companheiro e modelo que podiam imitar”, como mestre e caminho, e como juiz que em nós quer reconhecer um dia discípulos seus, como Divino Salvador e como fonte de vida da qual deviam alimen-tar-se para viver e gozar as alegrias do espírito.214

Na Comunhão Eucarística essa relação alcançava seu mo-mento de máxima reciprocidade afetiva e de afinidade espiritual entre o Senhor e os “jovens, orantes”. Era, por si mesmo, uma meta. Porém, ao mesmo tempo, a maneira como era vivida podia indicar ao sacerdote educador com que eficácia tinham logrado penetrar a caridade e a fé no coração de seus discípulos.

Descobrindo os dons de oração que Deus tinha depositado na alma de seus rapazes, ele não só os respeitou “religiosamente”, mas os estimulou e valorizou. Sem acentuar desmedidamente aquilo que podia ser excepcional e extraordinário no ambiente ordinário do Oratório, onde tudo, e explicitamente os cartazes

212 Cf. Alberto Caviglia, Savio Domenico e Don Bosco, p. 70-71.

213 São Francisco de Sales, Introdução à vida devota ou Filotéia. Padre Júlio Olarte busca adaptá-la à linguagem atual e a intitula: Santidad para todos. Bo-gotá, Colômbia, Centro Felipe Rinaldi, 1997. O tema está no cap. I da Primeira Parte, p. 17-20.

214 Cf. Pietro Stella, Don Bosco nella storia della religiosità católica…, vol. II, p. 101-118: “Gesù nella Eucaristia”; “Gesù Giudice”; “L’esempio di Gesù”;

“Gesù Divin Salvatore”.

que fizera Pedro Enria colocar nas paredes, falava da presença de Deus, que era, de certa maneira, semelhante à que ele mantinha entre seus filhos na Casa.215

Naquele mesmo pátio de Valdocco, um dia, talvez de julho de 1952, me dizia padre Eugenio Ceria, mostrando-me os apo-sentos do terceiro piso: aqui, ele vivia, e aqui vivíamos todos com a certeza de que Dom Bosco estava presente e disponível, ele era todo para nós! Ceria tinha professado aos 16 anos, em 2 de dezembro de 1886.216

Na prática, Dom Bosco era muito concreto. O jovem instruído, publicado pela primeira vez em 1847, recopilava uma série de

“exercícios de piedade cristã”, o Ofício da Virgem, as principais Vés-peras do Ano e uma seleção de cantos religiosos populares. Práticas usuais nas famílias e paróquias de montanhas e vales, sobretudo do Monferrato, que os rapazes do Oratório conheciam.

As indicações prévias a estas orações motivavam as condutas cotidianas ou semanais ou festivas, para manter neles desperta e fervorosa a fé aprendida na sua infância, ou para proporcionar novos recursos quando eles quisessem entrar num sério caminho de amizade com Deus e de oração explícita.217

215 Um pouco de bibliografia acerca do tema da “piedade”, da “oração”, da “vida sacramental”: Pietro Stella, Don Bosco nella storia della religiosità católica, vol. II, e Valori spirituali nel Giovane Provveduto di San Giovanni Bosco.

Durante esta reflexão, citamos as obras de Caviglia sobre as biografias escritas por Dom Bosco. A nosso ver, são decisivas para o tema.

Em Mario Midali (ed.), Don Bosco nella storia. Roma, LAS, 1990, p. 371-392, encontra-se o ensaio teológico de J. Schepens, “Don Bosco e l’educazione ai sacramenti della penitenza e dell’eucaristia”.

É muito valioso e atualizado o livro de Giuseppe Buccellato, Alla presenza di Dio: ruolo dell’orazione mentale nel carisma di fondazione di San Giovanni Bosco. Roma, Editrice Pontifícia Università Gregoriana, 2000.

Thelian Argeo Corona Cortés, La pedagogía de los Novísimos en los escritos de Don Bosco: uma dissertação dirigida por Aldo Giraudo, em 2003.

216 Ver Eugenio Ceria, L’ambiente educativo dell’Oratorio nel tempo del Savio.

Turim, SEI, 1951, p. 57-67.

217 Para o primeiro texto de O jovem instruído, de 1847, ver Giovanni Bosco, Opere edite. Roma, LAS [1976], vol. II, p. 183-532.

Dominava, como era natural, a oração de petição, que ex-pressava em geral a atitude da pobreza pessoal diante de Deus e a confiança nele. Oração unida à Cruz e à festa; ambas expressões da realidade humana vista e vivida com uma fé pascal concreta e cheia de esperança.

Os bairros marginais de Turim, como o de Valdocco, eram visitados com certa frequência por epidemias mortais e deso-ladoras. As limitações e os riscos da vida eram motivos a mais para que Dom Bosco ensinasse a seus rapazes como assumir e superar suas situações pessoais, com atitude filial, sabendo que o Senhor jamais os abandonaria.

A festa era uma dimensão da própria vida cristã. Dom Bosco faz alusão explícita a esta, sobretudo quando acom-panha seus filhos nos momentos de sofrimento e na hora da morte. As provas ordinárias e a dor lhes diziam que a meta, na sua idade, podia também estar muito próxima, porém que continuava ainda a peregrinação antes de voltar à casa do Pai.

Domingos, pressentindo que a morte estava próxima, ao despedir-se de seus companheiros, com a dor de deixá-los, os citou para o encontro definitivo com Deus, no céu. Logo, no lar de Mondônio, apesar do grave mal-estar da doença, seu rosto conservava a alegria. Evocava a paixão do Senhor quan-do a sentia ele mesmo em seu corpo, porém, estanquan-do já para morrer, extenuado pelas “sangrias medicinais” que lhe tiravam a vida, repetia ao papai que o acompanhava de perto que de-sejava começar a entoar os louvores que cantaria eternamente ao Senhor.

Miguel Magone expirou “sorrindo”. Por sua parte, Francisco Besucco, perto de morrer, à pergunta de Dom Bosco se dese-java ir ao encontro do Senhor, respondeu-lhe simplesmente:

“Imagine se não hei de querer!”. Logo, recordando com seu pai espiritual o que Cristo tinha sofrido por ele, acrescentou que

já não queria pensar noutra coisa senão no Paraíso, se era essa a vontade do Senhor.218