2. Grandes horizontes do acompanhamento espiritual em
2.3 Alegria como singular experiência da espiritualidade
A nota mais característica da personalidade de Magone, adolescente, é a busca da alegria e da paz interior, sem as quais sente em sua consciência um emaranhado de coisas que lhe tiram energias e equilíbrio psicológico e espiritual. Depois, a Virgem domina o panorama interior e se faz a mestra e o maior consolo no final da sua vida.
Falece aos 13 anos e meio de idade. Não chegou a ler a vida de Domingos Sávio, morto a 9 de março do mesmo ano de seu ingresso no Oratório, e de quem se conservava viva a edificante recordação. Porém, sua própria biografia, escrita por seu mestre e pai espiritual, seria proposta também por Dom Bosco aos rapazes, à maneira de uma aventura “um pouco ro-mântica” de um pequeno que, abandonado a si mesmo, podia ter se perdido nos vícios, porém, correspondendo ao Senhor, tinha chegado a percorrer um caminho admirável para todos os que o conheceram.107
107 Cf. São João Bosco, Vida do jovem Miguel Magone: aluno do oratório São Francisco de Sales, p. 10.
São notáveis, dentro da grande tradição de estudos acerca do Fundador, os li-vros de Alberto Caviglia dedicados a essas figuras juvenis, glosando, espiritual e pedagogicamente, as Vidas escritas por Dom Bosco, às quais já nos referimos de uma forma ou de outra. Estão incluídas dentro da coleção Opere e scritti editi e inediti di Don Bosco. Turim, SEI: Vol. IV, La vita di Savio Domenico e Savio Domenico e Don Bosco, 1942-1943 [Ristampa: junho 1977]. Vol. V. Il Magone Michele, 1964.
Francesco Orestano, humanista e pedagogo, chegou a dizer que “santificando a alegria de viver” Dom Bosco tinha ensi-nado a experimentar “a euforia”, quer dizer, a capacidade de convencer e de apaixonar que tem a vida cristã.108 A “alegria”
chegou a ser para o santo educador em verdade, como afirma Pietro Braido, “uma forma de vida” e “um fator educativo in-substituível”, que brota da própria índole psíquica do jovem e do espírito de família que o envolve com sua experiência de segurança e de confiança.109
Porém, mais em profundidade, como o evidencia o caso da conversão de Magone, a alegria nasce dessa serenidade interior que dá a presença de Deus no coração inquieto e insaciável de carinho, de perdão e de amizade dos jovens. É um fruto da vida da graça.
Algo que não tem a precariedade das satisfações jubilosas que bro-tam da própria índole dessa idade, ávida de entretenimentos, de aventuras exultantes, de energias e criatividade, de surpresas e de lucros, de pequenas conquistas lúdicas, da realização momentânea de sonhos passageiros e de ideais fugazes.
Magone, já integrado na vida oratoriana, comprovou que na alma de seus companheiros havia outra “alegria”, que ele ainda não tinha descoberto nem experimentado e à qual se opunha esse obscuro mundo interior de sua vida passada, sem esclarecer nem sanar ainda.
Isso começou a afundá-lo na solidão, na tristeza, no desen-canto de tudo. Porém, quando na intimidade com Dom Bosco conheceu a graça do sacramento da Confissão, tudo mudou, e o mundo se tornou um caminho ligeiro para a Casa do Pai.
A oração e a meditação se tornaram habituais, a música e o canto, uma oportunidade original para invocar e bendizer o Senhor.
108 Ver o discurso do acadêmico Francesco Orestano, na comemoração cívica de Dom Bosco em Cagliari, Sardenha, Itália, dia 17 de novembro de 1934, e da qual se fala em BS 5 [1935] maio, p. 139-140.
109 Pietro Braido, L’esperienza pedagogica di Don Bosco. Roma, LAS [1988], p. 144-145.
A comunhão foi o cume de sua experiência de Deus. Então entendeu, por própria experiência, a frase que Dom Bosco lhes repetia: “Estejam sempre alegres! Corram, brinquem, inventem tudo o que os faça felizes, exceto aquilo que possa ser ofensa de Deus!”.
Da mão da Virgem, seu “pai espiritual” foi levando a Magone da conversão radical até a santidade jubilosa. O trato ordinário com seus companheiros e educadores demonstrou uma vez mais a bondade e a gratidão de que seu coração fazia tesouro. Dele, então, se podia esperar tudo de bem!110
Em Domingos Sávio, por sua vez, Dom Bosco tinha encon-trado um terreno disposto para uma grande aventura. Ambos, com seu mestre, empreenderam-na sem duvidar um momento.
Era uma oportunidade excepcional e Dom Bosco assim a en-tendeu. A vontade indeclinável de conquistar a santidade, à luz do Coração Imaculado de Maria, levou-o a imolar-se pelo bem dos demais. Esse foi o segredo interior guardado, sem nenhum alarde, na profundidade de seu coração, tão sensível à caridade.
Por outra parte, seu confessor respeitou os dons de oração que descobriu e soube orientar com sabedoria pedagógica. Nele secundou a capacidade de amizade e de testemunho cristão.
Acreditou nele e fez a seu lado e com o seu ritmo a mesma caminhada.111
De Pietro Stella, há páginas preciosas quando analisa O jo-vem instruído, manual de santidade elaborado cuidadosamente por Dom Bosco, à medida dos jovens de seu tempo e de seu ambiente. Neste livro, tudo expressa a felicidade de ser filhos de Deus, de ser o que Ele quer que sejam, de modo que na vida real, assim como acontece, vivida com amor, se desenvolva uma
“liturgia da alegria”.112
110 Cf. São João Bosco, Vida do jovem Miguel Magone, p. 21-28, 39-48.
111 Cf. Alberto Caviglia, Savio Domenico e Don Bosco, p. 113-128.
112 Pietro Stella, Valori spirituali nel Giovane Provveduto di San Giovanni Bos-co. Roma, 1960, p. 86-93.
Era uma das características típicas do sacerdócio e da arte educativa de Dom Bosco, a de transformar a vida de seus “fi-lhos” numa festa, e gozar também da alegria incomparável de entregar-se por completo a seu bem.113
Além de ser fruto de um estado de espírito espiritual e psicológico, tem por si uma função terapêutica: distensão, multiplicar as energias positivas, descansar o mundo afetivo.
É sinal de saúde e de equilíbrio emocional. Um educador alegre semeia confiança e serenidade a seu redor. Também a alegria se cultiva como uma atitude que por sua vez estimula e pacifica o espírito.
2.4 Educação que põe ênfase particular nos aspectos