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Pedagogia espiritual ancorada na realidade cotidiana

2. Grandes horizontes do acompanhamento espiritual em

2.2 Pedagogia espiritual ancorada na realidade cotidiana

Voltando à época do primitivo Oratório e seguindo nossa reflexão acerca do modo de conhecer a condição e situação concreta de nossos penitentes e dirigidos, pensemos nas difi-culdades vividas por Dom Bosco.

A emigração dos setores rurais para a cidade era, sem dúvida, um fenômeno social traumatizante para muitos daqueles joven-zinhos, formados num tipo de vida completamente em contraste com o ambiente senhoril e manufatureiro da capital. Nos setores de origem, na intimidade familiar, os rapazes se enriqueciam com os valores próprios de sua cultura agrícola, patriarcal e religiosa de então. No seio do lar, cada pessoa era irrepetível e sua presen-ça e sua contribuição humana e espiritual eram decisivas para a consolidação da identidade familiar e sua transmissão histórica.

A família Bosco, por exemplo, tinha trazido de seu setor originário de Canarone, na província de Chieri, desde fins do século XVII, seu perfil de emigrantes, seus costumes de meeiros: trabalhadores de terras que jamais possuíram.

Turim era uma cidade grande aberta à Áustria, à Saboia, à França. Sede da casa real e do bispo de uma extensa jurisdição eclesiástica que ia bem além do perímetro urbano. Capital do estado saboiano, cheia de memórias históricas e artísticas, era já, desde algumas décadas, agitada por fermentos revolucioná-rios antiabsolutistas, e projetada para a era pré-industrial por múltiplas e pequenas empresas.

A ela chegavam sobretudo esses pequenos caminhantes ru-rais em busca de trabalho, aos quais Dom Bosco oferecia um

105 Marcos Virgilio Sánchez e Carlos Centen Cortés, “El capellán del equipo de cuidados paliativos”, Selare, 102 [2005], março, p. 20-21.

albergue educativo adequado às suas difíceis condições sociais de província. Com eles empreendia a complexa tarefa forma-tiva que tinha em vista, antes de tudo, a experiência racional e coerente da vida cristã. Foi com eles que Dom Bosco foi definindo, sistemática e organicamente, com paciência infinita, sua pedagogia espiritual.106

Uma pedagogia que acolhia e valorizava precisamente a pessoa do jovem emigrante. Oferecia-lhe uma casa, um pátio, estudo e capacitação para o trabalho, enquanto evocava as raízes de sua fé, a nostalgia e a poesia das celebrações paroquiais fre-quentadas por eles em sua infância, os sacramentos de iniciação de sua vida de fé. Também os ensinamentos de seus antepassa-dos, carregados da sabedoria de uma longa e humilde existência vivida debaixo do sol ou nas inclemências do tempo, entre semeaduras e colheitas promissoras ou em abnegados cultivos e secas dos campos que lhes deixavam às vezes no semblante as marcas da miséria e da fome.

Junto com aquelas lembranças familiares e locais, Dom Bosco discorria com eles sobre os fatos da História sagrada, ou lhes ia abrindo os olhos para o conhecimento de personagens e gestas que estavam na base do empório cultural do Piemonte e da Itália.

Porém, dentro desse grande e pequeno contexto cidadão e educativo, estava a história pessoal dos jovens, que era o âm-bito dentro do qual a vida espiritual do rapaz ia ter, com Dom Bosco, sua própria caminhada, às vezes narrada por ele em seus livros biográficos, para motivação formativa do ambiente. Assim aconteceu com a trilogia biográfica de Domingos Sávio, Magone e Besucco, ou com a vida de seus amigos Luís Comollo e José Burzio, companheiros de seus anos de estudante no Ginásio e no Seminário de Chieri.

106 Cf. Alberto Caviglia, Il Magone Michele, una classica sperienza educativa.

Turim, SEI, 1950, p. 7-8, 47; Beato João Bosco, “O pastorzinho dos Alpes ou Vida do jovem Francisco Besucco” [versão do italiano]. Leituras Católicas, p.

496-497 [1931]. Niterói, Escolas Profissionais Salesianas, 1931, p. 5.

O trabalho espiritual, como dissemos, compreendia não apenas a arte e o espírito da oração, ou a práxis sacramental.

Pelo contrário, abarcava todos os aspectos da vida do jovem, vistos sob o foco de sua vocação cristã à santidade.

Esta proposta Dom Bosco a fazia dentro do processo cativo global, unida à circulação de valores e intervenções edu-cativas que faziam crescer e consolidar-se em humanidade aos jovens. Era uma metodologia própria de sua visão antropológica concreta e otimista da pessoa, em que se acentuavam sempre os aspectos positivos e a capacidade de bondade que o coração deles abrigava. Um humanismo cristão.

A orientação do jovem compreendia todos os aspectos:

desportivos, físicos, relacionais de sua personalidade, estudo, capacitação para o trabalho, diversão, arte teatral, música e canto, dons de oração que tinha recebido, sua inquietude pelo serviço e a colaboração espontânea, sua busca do bem dos de-mais, sua abnegação e seu sacrifício...

Os passeios de outono eram também peregrinações religiosas que recordavam as de Felipe Neri pelos arredores de Roma.

Porém, também oportunidades para voltar aos lugares amados de proveniência e para mostrar aos familiares e vizinhos a índole da pedagogia oratoriana proposta pelo santo.

Na verdade essas experiências compreendiam todo o espírito de Dom Bosco em cada um dos aspectos que as caracterizavam.

Não desperdiçava nenhuma oportunidade de ensinar e de fa-zer sentir as raízes culturais das tradições piemontesas. Lendas ancestrais, retalhos da história, devoções e culturas das quais se originaram mosteiros e igrejas. Também a classe e a beleza das vinhas proverbiais de Asti e do baixo Monferrato, modalidades de cultivo, generosidade das colheitas que se desbordavam sobre a terra em outubro e das quais os proprietários permitiam que os pequenos saboreassem. Os passeios eram oportunidades para celebrar festividades locais e encher os campos e caminhos com

cantos tradicionais, com farsas jocosas de palhaços e saltim-bancos e declamações cênicas, em meio ao regozijo geral e às delícias da gente do povoado. Eram parte do projeto educativo que fazia também viver em uma festa contínua, com Deus e os homens, a santidade dos jovens.

Dom Bosco evitava enfoques exclusivamente moralistas dos fatos e da vida, a lista de defeitos e de pecados. Sem des-cuidar as oportunas observações formativas sobre detalhes do comportamento ordinário, ia diretamente ao conhecimento e amor a Jesus Cristo, à educação na experiência da presença viva de Deus, à amizade com a Virgem, mãe e mestra da vida da graça, sobretudo ao sentido do dever ordinário e da vivên-cia da caridade no trato com todos. Quando queria estimular particularmente os rapazes às metas da perfeição evangélica, os comprometia em fazer o bem aos demais sem cansaço, enquanto fosse possível fazê-lo. O tempo era breve. A morte podia chegar quando menos se esperava. Cristo consideraria como feito a si mesmo o que se teria feito ao próximo.

Então, como no caso de Miguel Magone, a morte era a che-gada ao paraíso, tantas vezes sonhado, a meta última onde ele esperaria a chegada também de seus companheiros do Oratório, com os quais tinha empreendido a caminhada.

Miguel não permitiu que sua mãe estivesse presente, pen-sando na dor que lhe ocasionaria sua partida. Porém, a Virgem Santíssima enchia de consolo e de esperança esse momento supremo. Dom Bosco não o deixou um só minuto na prepa-ração e no momento mesmo do encontro com Deus que esse extraordinário rapazinho tanto anelava.

No caso de Magone, se descreve todo o itinerário feito desde a surpresa do primeiro encontro na estação ferroviária de Car-magnola até sua chegada e breve permanência em Valdocco, onde levaria a cabo um profundo processo de transformação espiritual e moral. Diretamente ou por meio de companheiros

de confiança, Dom Bosco acompanha, orienta e estimula a crescente vida espiritual do jovem, por meio de suas obrigações cotidianas cumpridas com perseverança, no meio ambiente repleto de valores pedagógicos e espirituais dos quais progres-sivamente se ia enriquecendo. Uma caminhada que vai desde a conversão do coração até um maravilhoso grau de perfeição cristã.

2.3 Alegria como singular experiência